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Professores de máquinas

11 de janeiro de 2020



“Definitivamente, precisamos ser ouvidos. Eu penso que muito é dito sobre IA, mas pouco sobre nós [turkers], aqueles que tornam essa área e suas aplicações viáveis. Eu existo e quero que você e outras pessoas saibam disso”.

“Eu quero mais empregos para poder viver minha vida em grande estilo”.

“Flexibilidade é o futuro”.

“Acredito muito na Inteligência Artificial e é uma honra poder ajudar de certa forma”.

“Talvez eu tenha aderido a um modelo de trabalho que seja comum nos próximos anos”.

“Um dia fiquei pensando como seria interessante se eu pudesse receber não só pagamento em dinheiro, mas em cursos, para que me tornasse mais inteligente e, assim, contribuísse para uma tecnologia ainda mais fina. Seria bom se eu fosse visto como um professor – não que um professor seja bem valorizado no Brasil, mas deveria. Um professor de máquinas”.

Algumas frases vindas de trabalhadores remotos brasileiros que trabalham na plataforma Amazon Mechanical Turk e, dentre outros serviços, treinam a chamada Inteligência Artificial. Durante alguns meses, eu e Gabriel Pereira nos aproximamos desses trabalhadores para entender se havia alguma especificidade entre os brasileiros que trabalham nessa função. Haviam mais de uma: dificuldades para receberem diretamente os seus pagamentos, mobilização crescente via grupos de WhatsApp e uma vontade de serem ouvidos. Foi assim que nasceu este artigo escrito para uma edição da Revista Contracampo sobre trabalho em plataforma, organizada por Rafael Grohmann e Jack Qiu, e com ajuda de Gustavo Aires e o professor Fabio Gagliardi Cozman.

Essse artigo é também valioso para mim, pois foi o início de uma rede de escuta, aprendizado e trocas entre muitos turkers brasileiros – gente de verdade que cria a o pseudo automatismo pleno das máquinas supostamente inteligentes.