<<

Um Carvalho

22 de julho de 2011


Uma escultura de Michael Craig-Martin, de 1973, parece ser um copo de água em cima de uma prateleira. Craig-Martin, porém, afirma que o conjunto é, na verdade, uma árvore. Mais especificamente, um carvalho.

Abaixo da obra, há um cartaz com o seguinte texto sobre o trabalho:

P: Para começar, você poderia descrever este trabalho?

R: Sim, claro. O que fiz foi transformar um copo d'água em um carvalho adulto sem alterar os acidentes do copo d'água.

P: Os acidentes?

R: Sim. A cor, sensação, peso, tamanho ...

P: Você quer dizer que o copo d'água é o símbolo de um carvalho?

R: Não. Não é um símbolo. Eu mudei a substância física do copo de água para a de um carvalho.

P: Parece um copo d'água.

R: Claro que sim. Eu não mudei sua aparência. Mas não é um copo d'água, é um carvalho.

P: Você pode provar o que afirma ter feito?

R: Bem, sim e não. Eu alego ter mantido a forma física do copo d'água e, como você pode ver, eu tenho. No entanto, como normalmente se procura por evidências de mudança física em termos de forma alterada, essa prova não existe.

P: Você simplesmente não chamou este copo d'água de carvalho?

R: Absolutamente não. Não é mais um copo d'água. Eu mudei sua substância real. Não seria mais correto chamá-lo de copo d'água. Alguém poderia chamá-lo do que quisesse, mas isso não alteraria o fato de que é um carvalho.

P: Não se trata apenas das roupas novas do imperador?

R: Não. Com as roupas novas do imperador, as pessoas afirmavam ter visto algo que não estava lá porque achavam que deveriam. Eu ficaria muito surpreso se alguém me dissesse que viu um carvalho.

P: Foi difícil efetuar a mudança?

R: Nenhum esforço. Mas demorei anos de trabalho antes de perceber que poderia fazer isso.

P: Quando exatamente o copo d'água se tornou um carvalho?

R: Quando coloco a água no copo.

P: Isso acontece toda vez que você enche um copo de água?

R: Não, claro que não. Só quando pretendo transformá-lo em um carvalho.

P: Então a intenção causa a mudança?

R: Eu diria que precipita a mudança.

P: Você não sabe como faz isso?

R: Isso contradiz o que sinto que sei sobre causa e efeito.

P: Parece-me que você afirma ter feito um milagre. Não é esse o caso?

R: Fico lisonjeado que você pense assim.

P: Mas você não é a única pessoa que pode fazer algo assim?

R: Como posso saber?

P: Você poderia ensinar outras pessoas a fazer isso?

R: Não, não é algo que se possa ensinar.

P: Você considera que transformar o copo d'água em um carvalho constitui uma obra de arte?

R: Sim.

P: O que exatamente é a obra de arte? O copo d'água?

R: Não há mais copo d'água.

P: O processo de mudança?

R: Não há processo envolvido na mudança.

P: O carvalho?

R: Sim. O carvalho.

P: Mas o carvalho só existe na mente.

R: Não. O carvalho real está fisicamente presente, mas na forma de um copo d'água. Como o copo d'água era um copo d'água específico, o carvalho também é um carvalho específico. Conceber a categoria "carvalho" ou imaginar um carvalho em particular não é entender e experimentar o que parece ser um copo d'água como um carvalho. Assim como é imperceptível, também é inconcebível.

P: O carvalho específico existia em algum outro lugar antes de assumir a forma de um copo d'água?

R: Não. Este carvalho em particular não existia anteriormente. Devo também salientar que não tem e nunca terá outra forma senão a de um copo d'água.

P: Por quanto tempo continuará a ser um carvalho?

R: Até que eu mude.